Egito: Os sabores locais

Mezze egípcio

Mezze egípcio

Primeiro estranha-se, depois entranha-se. Nunca o velhinho ditado português se adequou tanto como à minha experiência com a gastronomia egípcia. Na verdade, a possibilidade de não me adaptar à comida local foi o meu maior receio antes dos 10 dias que por ali passei. A adaptação às gastronomias locais é, para mim, o maior desafio sempre que viajo, porque sou muito esquisito com tudo. Com os sabores, com os cheiros, com o modo de apresentação… Enfim, com tudo mesmo. Mas a cozinha egípcia até me surpreendeu pela positiva, ao combinar legumes muito coloridos com carnes várias, estufadas com especiarias intensas. E sempre picantes, muito picantes. Não é uma culinária de que se goste muito, como a portuguesa ou a italiana, mas também não é daquelas que se odeia, como a nipónica, a meu ver.

Apesar de ter sido sempre «muito protegido» relativamente às tradicionais comidas de rua, por viajar num circuito turístico onde tudo se tentava adaptar da melhor forma aos paladares europeus, o choque gastronómico foi, por diversas vezes, inevitável. E aconteceu logo no primeiro almoço a bordo do meu navio no Nilo, que efectuou durante três dias o trajecto que separa Luxor de Aswan. As refeições eram sempre seguindo o método do buffet e a variedade era pouca: carne de pouco ou vitela, num molho ultra híper condimentado, arroz ou esparguete, batatas fritas (bataatis) ou cozidas e salada (salata), principalmente de courgettes, abóbora e cenoura. E as sobremesas eram sempre doces, nunca fruta.

A típica comida egícia do navio

A típica comida egípcia do navio

Mas foi no Cairo e em Alexandria que fui tentado a experimentar realmente as tradições culinárias egípcias. Numa primeira noite, fomos a um restaurante com uma vista formidável para o show de luzes das pirâmides de Giza, o Queen Cleópatra. Já na outra fomos ao Felfela, bem no centro da cidade do Cairo, próximo do mercado de Khan al-Khalili.

Vista para o show de luzes das pirâmides de Giza (apesar da desfocagem)

Vista para o show de luzes das pirâmides de Giza (apesar da desfocagem)

Entrada no restaurante Falafel

Entrada no restaurante Felfela

E foi nestas duas ocasiões que comemos pela primeira vez alguns dos pratos que compõem os típicos mezzes egípcios, uma forma típica de apreciar muitas das especialidades em questão. O pão deles (o aish), que acompanha os molhos, em especial o pão achatado (baladi) não poderia faltar. E depois foi só deixarmo-nos levar. Comemos folhas de videira recheadas, falafel (bolinhos de grão de bico fritos), umas empadas de espinafre (sabanikhiyat), o puré típico de beringela (o babaghanoush), o hummus e o fuul, molhos à base de favas. Estava tudo uma verdadeira delícia, pasme-se. Mas antes de ter ganho coragem para provar tudo, ia tendo um ataque de pânico. Era muita coisa estranha que ia sendo colocada à minha frente e para as quais olhava com cara de poucos amigos.

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Agarrado ao aish

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Aish, falafel, folhas de videira recheadas, hummus e fuul

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Falafel, uma tentação

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Baladi com tudo dentro

Mas, para mim, a grande surpresa dessas duas noites foi mesmo a sobremesa. A mahallabiyaa é qualquer coisa de divinal. Trata-se de um doce que é feito à base de arroz moído com nozes torradas e canela, aromatizada com água de rosas. Uma verdadeira maravilha.

Mahallabiyaa, a minha perdição

Mahallabiyaa, a minha perdição

Já em Alexandria, no Fish Market, situado na corniche da cidade, acabámos por provar uma outra especialidade local, desta vez à base de peixe, a sayyaddia. Este é um prato que tem por base um peixe muito fresco que é frito ou grelhado por inteiro e é servido com arroz rico em especiarias locais e, por vezes, limão. Sendo o Egito um país rico em perca oriunda do Nilo, este tipo de peixe é, por variadas vezes, a base deste prato.

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Entrada do Fish Market

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O ambiente do restaurante

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Vista espectacular sobre o Mediterrâneo

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A sayyaddia

Pela negativa, porém, destaco a inexistência quase por completo de fruta às refeições. Ao fim de dez dias a viajar, como calculam, é frustrante comer sempre sobremesas ou bolos e não ver nada de fruta para aquietar o estômago depois da refeição. E este sentimento ganhou ainda mais proporção sabendo eu que o pais é rico em fruta, como as ameixas sumarentas, as romãs ou os figos. Infelizmente, a única vez que reclamámos pelo facto de não haver frutas, trouxeram-nos umas tâmaras que estavam tão verdes e duras que juro que ia partindo os dentes. Foi muito desagradável.

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As famigeradas tâmaras

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Farto destas sobremesas

Apesar de ser um país árabe, o álcool está muito disponível em bares e restaurantes. Não provei as cervejas locais, como a Stella ou a Sakkara, mas abusei nas bebidas quentes, especialmente nos chai, ou seja, no chá forte de menta. E agora até já ia outro, depois de esta orgia gastronómica toda ter despertado a minha saudade pelo Egito. Haja estômagos fortes para aguentar tudo isto.

Chá forte de menta, do melhor que o Egito pode oferecer

Chá forte de menta, do melhor que o Egito pode oferecer

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About Desporto: viajar

Jornalista de profissão, devorador de viagens por paixão. Sempre que me quiserem encontrar, vou estar por aí.

2 responses to “Egito: Os sabores locais”

  1. Ana Cristina Da Silva Oliveira says :

    Amei sua experiencia eu vou morar no Egito estava preocupada com a gastronomia

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