Barcelona de Gaudí: Sagrada Família, a menos convencional das igrejas europeias

Maquete da Sagrada Família | D.R.

Barcelona gosta de ser uma cidade individualista. E o Templo Expiatório da Sagrada Família, a menos convencional de todas as igrejas europeias, contribui para o reforço desse sentimento, não fosse a obra-prima de Antoní Gaudi o emblema desta cidade. Só em frente de uma das fachadas do projecto se pode compreender bem as razões que fazem da Sagrada Família o mais sensacional trabalho do artista, a quem viria a ser confiada em 1883 a tarefa hercúlea de terminar a construção de uma igreja neogótica no local. Terminou sim, não sem antes ter introduzido tanta reformulação ao projecto que o mesmo só tem previsão de estar concluído em 2026. 143 anos em construção. Actualmente, apenas 65% do templo está construído, mesmo decorrendo as obras diariamente a bom ritmo, em simultâneo com as hordas de turistas que acorrem ao local para ver o trabalho que consumiu por inteiro os últimos 16 anos da vida de Gaudí.

Era com todo este sentimento e muitas expectativas que começou da melhor maneira o meu terceiro dia em Barcelona. Ainda eu não tinha acabado de subir todas as escadas da estação de metro “Sagrada Família” e já conseguia ver os mosaicos que revestem algumas das torres já construídas. No total, serão 18: quatro em cada uma das três fachadas, representando os 12 apóstolos, quatro simbolizando os evangelistas e mais uma dedicada a Maria. A estas, somar-se-á na última etapa de execução do projecto uma outra torre gigantesca, a 18.ª, dedicada a Jesus, no centro da Sagrada Família, que terá 172 metros de altura.

Torres do templo | D.R.

E, de caras, a Fachada da Natividade, a mais antiga, a este, é aquela que dá as boas-vindas aos visitantes saídos do metro, o que era o meu caso. A fachada está na parte mais completa da igreja gaudiniana, tem pórticos que representam a Fé, a Esperança e a Caridade, bem como cenas do nascimento e infância de Cristo com símbolos como as pombas que representam a Congregação. E o visitante/turista consegue perceber por si que esta se trata de uma das partes mais antigas da Sagrada Família porque a cor da pedra esculpida no local é bem mais escura do que a Fachada da Paixão, no lado oposto, e por onde se fazem actualmente as entradas para o interior.

bruno 254

Fachada da Natividade I

bruno 255

Fachada da Natividade II

Pórtico da Fé, fachada da Natividade | D.R.

A Fachada da Paixão, a oeste, mais tristonha, ficou concluída oito décadas depois da primeira, pelo artista Josep Maria Subirachs. A obra é algo controversa, dadas as figuras angulares e até sinistras que permeiam toda esta construção. Esta fachada é a primeira a receber os raios de sol que iluminam o templo, mas também a primeira a ficar escurecida. Além destas duas, está também erguida a fachada da abside, a primeira parte da igreja a ser completada por Gaudí. O artista encarregou-se pessoalmente desta parte da igreja porque sentia enorme devoção pela Virgem Maria, para quem a abside estava desde o primeiro momento consagrada.

bruno 261

Fachada da Paixão I

bruno 262

Fachada da Paixão II

Fachada da abside | D.R.

No lado oposto à abside, a sul, ainda será erguida a quarta e última fachada: a da Glória. A mais importante. É por aqui que se farão as entradas no templo expiatório a partir de 2026, quando este estiver totalmente erguido. A fachada recebeu o nome de Glória porque exalta a relação que se estabelece entre o ser humano e a ordem natural com que foram sendo criadas todas as coisas. Também esta fachada terá vários elementos esculpidos, do qual se destacará a palavra “Credo”, junto das quatro últimas torres que terão ainda de ser erguidas no local. Por estar orientada a sul, é a fachada que vai receber a maior parte dos raios solares durante o dia.

Esboço da Fachada da Glória | D.R.

No interior, destaca-se na abside a capela dedicada à Virgem de Agosto, muito venerada pelos catalães, e as cinco naves, a central com uma altura de quase 50 metros. Na nave central, numerosos pilares, que se assemelham às árvores de um bosque, suportam as galerias por cima das naves laterais, enquanto as clarabóias deixam entrar a luz natural. O piso da nave central tem cortiça portuguesa como pavimento. Destaca-se ainda a cripta onde Gaudí está sepultado, que foi construída pelo arquitecto original, Francesc de Paula Villar i Lozano, em 1882.

Altar, Sagrada Família

Altar, Sagrada Família

bruno 277

Nave central e abside ao fundo

Vitrais na Sagrada Família

Vitrais na Sagrada Família

Abóbada do templo | D.R.

A Sagrada Família tem ainda um museu no andar de baixo que traça as carreiras dos diversos arquitectos envolvidos na construção da igreja, bem como a sua história. Se quiser subir às torres e às galerias superiores, também é possível fazê-lo, bastando subir os 400 ingremes degraus de uma escada em caracol. O panorama certamente compensará o esforço. Também há elevadores nas torres já construídas para aqueles que têm menor resistência física. Em volta do exterior do edifício circulará um ambulatório, que funciona como se fosse um claustro, mas voltado para fora.

Maquete da fachada da Glória, a ser construída, no museu | D.R.

Claustro | D.R.

Novo detalhe do claustro | D.R.

Os trabalhos de construção da Sagrada Família continuam, como já disse, financiados por subscrição pública. Entre 13 a 20 milhões de euros vêm anualmente das receitas geradas pela venda de bilhetes junto de turistas. No entanto, a obra tem estado emersa em polémica, porque os mais cépticos alegam que esta está a desvirtuar o plano original de Gaudí, visto que graças a um incêndio, que deflagrou no interior da estrutura em 1936, dez anos após a morte do arquitecto, não restam quaisquer planos, maquetas ou esboços do aspecto final da Sagrada Família. Todas as obras que sucederam desde então foram resultado das interpretações e visões dos arquitectos que pegaram no projecto.

Actual director das obras: Jordi Bonet i Armengol | D.R.

Apesar das críticas, a construção da Sagrada Família, que já é Património Mundial da Unesco, avança alheia a tudo à sua volta. E a eterna igreja inacabada, mesmo sem ver ainda luz ao fim do túnel, é uma das mais fantásticas obras de arte e arquitectónicas realizadas em todo o mundo. Para já, vai deixando muita gente de boca aberta de estupefacção e êxtase. Eu não fui excepção. Daqui a 13 anos, quando estiver concluída, logo se verá.

Sagrada Família | D.R.

Informações úteis:

  • Localiza-se na carrer Mallorca, 401;
  • A entrada é paga e custa 13,50€. Se quiser audioguia, o valor sobe para 18€. A entrada só  inclui visita à basílica. Para subir às torres, tem de pagar mais 4,50€ e a entrada é feita ou na fachada da Natividade ou na da Paixão;
  • Entre Outubro e Março, o horário de visitas é das 09h às 18h. Nos restantes meses, o horário é alargado até às 20 horas;
  • A melhor maneira de chegar é utilizando as linhas 2 e 5 do metro de Barcelona, estação “Sagrada Família”;
  • Há espaço para guardar malas e outros pertences na zona de bengaleiros “Consigna”. Também há duas lojas com recuerdos do templo, da cidade e de Gaudí;
  • Não se pode fumar ou comer no interior, nem tirar fotografias com tripé.

About Desporto: viajar

Jornalista de profissão, devorador de viagens por paixão. Sempre que me quiserem encontrar, vou estar por aí.

2 responses to “Barcelona de Gaudí: Sagrada Família, a menos convencional das igrejas europeias”

  1. ADELISE CRISTINA DE MORAES says :

    VISITEI BARCELONA EM JANEIRO DE 2014.
    SE UM DIA EU TIVESSE QUE ESCOLHER UM LUGAR PARA MORAR ALÉM DO BRASIL, O LUGAR ESCOLHIDO SERIA COM CERTEZA BARCELONA.
    A BELEZA QUE VI E A QUALIDADE DE VIDA ( PRINCIPALMENTE DOS IDOSOS ) ME DEIXOU MARAVILHADA.

    Gostar

Deixe um comentário