Visita rápida ao Museu do Prado
O Museu del Prado, localizado no Paseo del Prado, em Madrid, contém o maior acervo mundial de pintura espanhola, em particular obras de Velázquez e de Goya. O espaço também contém preciosas colecções estrangeiras, particularmente de obras italianas e flamengas, reflectindo o poder da coroa espanhola, bem como o seu domínio no passado sobre o norte de Itália e os Países Baixos. O edifício onde o museu está oficialmente instalado foi concebido por Juan de Villanueva, em estilo neoclássico, em 1785, por ordem de Carlos III. Abriu ao público como museu alguns anos depois, em 1819. A colecção permanente está disposta cronologicamente nos três andares principais. No rés-do-chão, apesar da predominância das exposições temporárias e da escultura, é já possível ver obras-primas de Goya, de Rafael, entre outros. Velázquez domina o primeiro andar, enquanto Goya está novamente presente nos dois andares de cima.
Visitei o Museu do Prado em duas horas. À pressa. Poderá ser isto visto como uma blasfémia? Talvez. Mas para quem já tinha pouco tempo para estar em Madrid como eu tinha, as duas horas foram melhor que nada. Valeu o planeamento antecipado da visita que me permitiu entrar no espaço de forma gratuita e ainda ver as 50 obras-primas do museu. Como é que isso foi possível? Eis as dicas principais para não se perder dentro do Prado.
- É possível não pagar os 14 euros do bilhete oficial e entrar no Prado para ver, ainda que rapidamente, as suas obras-primas. De segunda a sexta-feira, das 18 às 20 horas, as portas do espaço abrem-se aos visitantes durante duas horas sem cobrar nada pela sua visita;
- Vá cedo porque as filas de espera são certas. Assim evita perder o precioso tempo que tem, somente duas horas, à espera;
- Assim que chegar ao espaço, junto das bilheteiras, adquira a planta do Museu Nacional do Prado. Escolha a língua que mais lhe convir;
- Perca cinco minutos e organize a sua visita em redor das salas que mais despertarão a sua curiosidade. Para facilitar esse processo, vá directamente à secção das obras-primas nesse guia e destaque as pinturas dos artistas que pretende ver. Especial atenção para, naturalmente, Goya e Velázquez, mas também para Rembrandt, El Greco, Caravaggio, Rafael, Tiziano ou outros menos conhecidos como Fra Angelico, Van der Weyden e Durer.
- Já no interior, eis os principais números das salas a reter:
No piso do rés-do-chão, junto das bilheteiras, pode tomar logo contacto com alguma da pintura italiana que compõe o acervo do museu. É nessa ala, na sala 49, que poderá ver a obra-prima de Rafael, ‘O Cardeal’. A secção de pintura italiana do museu, distribuída um pouco pelos três pisos do espaço, abrange desde o primeiro Renascimento, com Fra Angelico ou Botticelli, até ao século XVIII com Tiepolo. Assim, logo ali ao lado, na sala 56B, está ‘A Anunciação’ de Fra Angélico. A pintura flamenga e alemã também se encontram representadas no rés-do-chão, respectivamente, com ‘A descida da cruz’, de Van der Weyden, que se poderá ver na sala 58, e com ‘Adão e Eva’, de Durer, na sala 55B.
O primeiro piso, por seu lado, contém o miolo das obras-primas do museu do Prado. E muita, mas muita pintura espanhola. É por ali que poderá ser visto, na sala 8B, ‘O cavaleiro com a mão no peito’, de El Greco, e todas as pinturas assinadas por Velázquez, distribuídas pela sala 9A e ao longo das salas 10 a 15. O incrível quadro de ‘As meninas’ domina, por exemplo, toda a sala nº 12. Mas, por ali, também há imensos quadros de Goya, designadamente, ‘A família de Carlos IV’, na sala 32, ‘A Maja nua’, na sala 36, ou ainda o ‘3 de Maio de 1808 em Madrid’, nas salas 64 e 65. Neste piso poderá ainda contactar de novo com obras italianas, de Caravaggio (‘David vencedor de Goliat’, sala 6), Tiepolo (‘Imaculada Conceição’, sala 23) ou Tiziano (‘O imperador Carlos V, a cavalo em Muhlberg’, sala 27). Se for fã de Rembrandt vá directo à sala 16B para ver uma obra-prima do pintor: ‘Judith no banquete de Holofernes’.
O segundo piso contém ainda alguma pintura espanhola de 1700 a 1800, de onde sobressai ‘O guarda-sol’, de Goya, presente na sala nº 85.
A pintura espanhola, parte integrante da colecção permanente do Museu del Prado, obedece a um critério cronológico que começa nos murais românicos do século XII e termina com a produção de Goya, já no século XIX. Da colecção, há ainda obras de Ribera, Murillo e outros pintores do chamado Século de Ouro da pintura espanhola. Apesar de estarem reduzidas em número nesta colecção, se comparadas à pintura italiana e flamenga por exemplo, há ainda pinturas britânicas e francesas a salientar. As primeiras, com Gainsborough, Reynolds e Lawrence à cabeça, reflectem a época do esplendor cultural de Inglaterra. Já as francesas, de Poussin e Claude Lorraine, desvendam as relações hispano-francesas durante o século XVII e as aquisições passadas de alguns reis, como Felipe IV ou Felipe V.
- Para mais informações sobre o museu, favor pesquisar página oficial aqui.
NOTA: Com esta entrada sobre o Museu del Prado termino a série de entradas no blog dedicadas a Madrid. As imagens que constam neste post são retiradas da Internet, devido à impossibilidade de o interior do museu ser fotografado, e como tal os seus direitos são reservados. A partir da próxima semana, uma nova série de entradas tomará o lugar de Madrid. É a vez de Istambul. Até lá.
El Escorial e Valle de los Caídos
A localidade de San Lorenzo de El Escorial esconde dois dos monumentos mais interessantes que alguma vez poderá ver nos arredores de Madrid. O primeiro, bem no centro da pequena cidade, trata-se de um imponente e soturno palácio erguido pelo rei Filipe II para a morada final do seu pai, Carlos I de Espanha. Já o segundo, localizado nas proximidades do aglomerado urbano, é uma enorme cruz mandada construir por Franco em memória daqueles que morreram na guerra civil espanhola. Esta cruz ergue-se por cima do altar-mor de uma basílica totalmente escavada na rocha, local do derradeiro repouso do ditador espanhol. Pela importância que os monumentos têm para Espanha e pela proximidade entre ambos, o ideal será combinar a visita aos dois no mesmo dia. Reserve a manhã para o palácio, sempre mais cheio de visitantes. A tarde dedique-a à contemplação da Santa Cruz del Valle de los Caídos e de tudo o que ela representa. A combinação é imperdível. Ora veja.
O Palácio Real de El Escorial
Construído entre 1563 e 1584 a mando de Filipe II, o gigantesco palácio real de El Escorial destaca-se não só pela sua severidade e frieza, mas também por ter lançado um novo estilo arquitectónico e influente em Espanha, o ‘desornamento’, literalmente ‘não decorado’. Situado nos contrafortes da serra de Guadarrama, o palácio real foi construído em honra de São Lourenço e é actualmente o derradeiro repouso de Carlos I de Espanha. O interior do palácio, facilmente visitável numa manhã, foi concebido mais como mausoléu e retiro contemplativo do que como residência sumptuosa. Actualmente, a visita ao palácio leva-o pelos museus de Arquitectura e de Pintura, passando pelos Aposentos Reais (Palacio de los Austrias), pelo Panteão Real, as Salas Capitulares, a Basílica, o Pátio dos Reis e a Biblioteca. O palácio, que é simultaneamente um mosteiro nos dias de hoje, é dirigido desde 1885 por frades.
- Os museus
O palácio de El Escorial tem vários pequenos museus no seu interior. Logo junto da entrada, é possível ver a obra de El Greco ‘O Martírio de São Maurício’. As escadas mais próximas conduzem-no até ao Museu de Arquitectura, onde existem diversas maquetas, planos, esboços e gravuras do palácio. No piso imediatamente acima está localizado o museu de Pintura, que abrange sobretudo obras dos séculos XVI e XVII. Ao longo de praticamente duas dezenas de salas, é possível ver pinturas de grandes mestres italianos, pintura espanhola e mesmo arte flamenga. ‘O Calvário’, do artista flamengo Rogier van der Weyden, do século XV, é uma das mais notáveis.
- Os aposentos reais
A visita conduzi-lo-á em seguida até ao Palácio de los Austrias ou Aposentos Reais, que circundam toda a zona da basílica. Aqui destaca-se a Sala dos Retratos, que inclui retratos dos reis Carlos I, Filipe II, Filipe III, Filipe IV ou Carlos II, as Salas de los Paseos, cujas paredes estão decoradas com pinturas das vitórias militares espanholas, e o Quarto do Rei, onde é possível ver a cama onde Filipe II morreu em 1598, com vista para o altar-mor da Basílica do palácio.
- O panteão real
O local onde repousam quase todos os monarcas espanhóis desde Carlos I é aquele que deve ser mais bem explorado por si na sua visita ao palácio. Localizado em baixo do altar-mor da basílica, este panteão com decorações em mármore preto espanhol foi concluído em 1654. Os reis estão alinhados à esquerda, as rainhas colocadas no lado direito. A última pessoa a ser sepultada neste panteão real foi a mãe do rei Juan Carlos I. Perto deste pantão, há um outro, chamado La Tarta, onde estão sepultados os filhos dos reis. O túmulo poligonal em mármore branco é impressionante.
- As salas capitulares
No canto sudeste do palácio, estão localizadas quatro salas capitulares, decoradas com imensas pinturas. Entre as melhores, estão algumas de Ticiano, artista que pintou diversas obras de arte em específico para o palácio de El Escorial, ou Vélazquez. Aqui poderá ver, a título de exemplo, o altar portátil de Carlos I.
- A basílica
A basílica do Palácio de El Escorial é impressionante. Localizada bem no centro do palácio, a basílica tem na verdade 45 altares e inúmeras atracções do foro artístico. O enorme retábulo foi criado Juan de Herrera, com mármore branco, jaspe, esculturas de bronze dourado e pinturas. É o grande destaque da basílica. A título de curiosidade, a criação do sacrário central ocupou por completo um conhecido ourives de prata italiano durante sete anos. As capelas em torno da basílica têm estátuas de Filipe II e de Carlos I em oração.
- A biblioteca
A biblioteca do palácio foi a primeira biblioteca pública espanhola. Além de conter a colecção pessoal de Filipe II, que a idealizou, a biblioteca teve nos seus tempos áureos mais de 40 mil livros, além de um sem fim de manuscritos preciosos. Nas quatro colunas principais da biblioteca estão retratos da família real espanhola. Ali estão igualmente expostas moedas e a esfera de Ptolomeu de Filipe II que colocava a Terra no cento do Universo (1852).
Santa Cruz del Valle de los Caídos
A cruz de mais de 150 metros de altura que Franco mandou erguer em cima de uma basílica escavada na rocha é visível ainda longe do Vale dos Caídos, a muitos quilómetros de distância. Imponente não só pelas dimensões envolvidas, mas também pela história que carrega, a cruz do Vale dos Caídos ainda é vista por alguns espanhóis como um símbolo frio da ditadura franquista. Mas a maioria elogia-a, ainda assim, pela excepcionalidade da própria obra.
A história do lugar confunde-se com a própria história espanhola. Os prisioneiros de guerra foram os responsáveis pela construção do local, ao longo de duas penosas décadas, embora muitos não tenham aguentado, sucumbindo. É aqui, no interior da basílica, ao lado do altar-mor, que poderá ser observada a branca e lisa pedra tumular do ditador. Do lado oposto, está a de José António Primo de Rivera, fundador da Falange Espanhola.
A visita ao interior da basílica é possível. Este surpreende-lo-á pela simplicidade, frieza e austeridade. Não é possível fotografar. À frente da basílica, no piso térreo, uma imensa escadaria proporciona vistas assombrosas do vale situado em frente, o Vale dos Caídos. E ali perto há ainda um funicular que o levará até ao topo da montanha, até junto do local onde se ergue a imensa cruz. As vistas lá de cima são avassaladoras. Além dos túmulos de Franco e de Primo de Rovira, também ali estão cerca de 40 mil ataúdes de soldados de ambos os lados da Guerra Civil Espanhola, incluindo os de duas vítimas não identificadas. O local não é visitável.
Informações úteis:
- Como chegar a San Lorenzo de El Escorial:
Para chegar até à localidade desde Madrid poderá apanhar o comboio ou ir de autocarro. Eu preferi esta segunda opção, tendo em conta que para visitar o Valle de los Caídos é preciso apanhar um outro autocarro no pequeno terminal da cidade. Assim, desde o Intercambiador da Moncloa, em Madrid, é preciso apanhar o autocarro nº 661 da Autocares Herranz e fazer o trajecto todo, que dura aproximadamente uma hora. Há vários horários de ida e de volta. Para mais informações, basta ver aqui.
- Como ir de San Lorenzo de El Escorial até ao Valle de los Caídos:
Desde o terminal de autocarros de San Lorenzo de El Escorial, basta apanhar o autocarro nº 660 que o deixará junto à entrada do complexo do Valle de los Caídos, próximo do funicular que o leva ao topo. O trajecto demora aproximadamente 20 minutos. Mais informações aqui.
- Não é permitido fotografar no interior dos locais;
- Horários e preços:
Para visitar o Palácio de El Escorial, no Inverno (a partir de Outubro), basta chegar ao local às 10h. Tem até às 18h para o visitar. Nos meses de Verão, a visita é extensível até às 20h. O bilhete básico custa 10€.
Os horários do Valle de los Caídos são os mesmos do palácio e a entrada também é paga, 9€.
NOTA: Todas as fotos que constem neste post e que sejam do interior dos dois monumentos não são minhas e, como tal, os direitos são reservados.
O palácio real de Aranjuez
O Palácio Real de Verão é o responsável pela vinda diária de milhares de turistas à pequena cidade de Aranjuez, situada a apenas alguns quilómetros de distância de Madrid. Ali, o luxo e a ostentação andam de mãos dadas em todas as suas salas barrocas reflectindo o bom gosto dos seus dois impulsionadores: os reis Fernando VI e Carlos III. O primeiro decidiu acabar a construção do palácio. Já o segundo foi responsável pelo seu aumento. Mas uma passagem pelo palácio deve incluir também uma visita aos seus três quilómetros quadrados de jardins, dispostos em volta de um pavilhão medieval junto de uma represa natural na confluência dos rios Tejo e Jarama. A visita vale a pena e o local é facilmente acessível de comboio desde a estação madrilena de Atocha.
Palácio Real
O palácio actual de Aranjuez foi mandado construir no local de um anterior consumido pelo fogo. Actualmente, a visita guiada leva-nos através de inúmeras salas, das quais se destaca a da Porcelana Chinesa, a dos Espelhos e uma outra, do Fumo, inspirada no Alhambra, localizado em Granada. Juan Bautista de Toledo e Juan de Herrera desenharam o edifício do palácio obedecendo a um estilo classicista após encomenda do rei Felipe II. Os trabalhos ficaram-se nessa altura pela metade, tendo sido posteriormente continuados nos reinados de Felipe V e de Fernando VI. O projecto original manteve-se por pouco tempo, uma vez que Carlos III mandou acrescentar duas novas alas ao edifício. Infelizmente, não é permitido fotografar o interior do palácio pelo que esta entrada no blogue será ‘pobre’ nesse aspecto.
Os jardins
Deve-se igualmente a Felipe II a quase totalidade dos três quilómetros de jardins existentes ao redor do palácio real. Da sua altura, século XVI, conservam-se o jardim da Ilha e o jardim do Rei. A decoração de ambos, principalmente as fontes hoje ali existentes, deve-se por seu lado ao rei Felipe IV. Já o jardim do Príncipe, do século XVIII, está decorado com fontes e árvores das Américas.
A Real Casa del Labrador
Situada na extremidade dos jardins, a Real Casa del Labrador é um pavilhão ricamente decorado construído por Carlos IV. O exterior modesto contrasta com a magnificência do interior. Os têxteis ali existentes são de particular interesse.
Informações úteis:
- Como chegar:
Desde a estação de Atocha, em Madrid, basta apanhar o comboio Cercanias (C3) que o levará diretamente até à cidade de Aranjuez. A tarifa ida e volta é de aproximadamente 5 euros. Dali até ao palácio real são cerca de 20 minutos a pé. Basta seguir as indicações no local.
- Preços e horários de funcionamento:
No Verão das 10h às 20h. No Inverno, que começa em Outubro, o palácio fecha duas horas mais cedo. O bilhete custa 9 euros. Mais informações aqui.
O património cultural de Ávila
O conjunto muralhado de Ávila, de longe o monumento que melhor identifica a cidade, esconde no seu interior um centro histórico riquíssimo, de cariz medieval e renascentista. Casas de interesse, palácios, templos e praças compõem este património cultural e são a prova viva da sã convivência ao longo dos tempos de cristãos, judeus e mudéjares. Todos eles foram deixando as suas marcas fazendo de Ávila hoje em dia uma cidade à qual se quer regressar. Seja porque motivo for. O meu deve-se apenas ao facto de não ter feito o passeio de 2,5 quilómetros de perímetro pelas muralhas da cidade, não obtendo as vistas que queria lá de cima. Por mau planeamento, visitei Ávila justamente no dia em que o seu conjunto muralhado estava encerrado ao público. Sobrou demasiado tempo para explorar o legado cultural do interior, declarado em 1985 Património da Humanidade pela Unesco. Às vezes, há males que vêm por bem. Ora leia.
Basílica de San Vicente
A Basílica de San Vicente é o expoente máximo do românico em Ávila e será provavelmente o primeiro monumento que vai ver na cidade, ainda fora do conjunto muralhado. Vista de cima, a igreja tem a forma de uma cruz latina com três naves e apresenta a singularidade de contar com uma tribuna sobre as naves laterais. A cabeceira da basílica ergue-se sobre a cripta de San Vicente, uma das obras essenciais da escultura românica na cidade. É o destaque na visita à basílica. Feita nos finais do séc. XII, a cripta relata de forma clara a detenção, perseguição e martírio de Vicente. É ainda perceptível no interior da igreja a fusão dos estilos românico e gótico, designadamente no encerramento da nave maior com abóbadas de esquina.
Muralhas de Ávila
As muralhas de Ávila, com 88 torreões e mais de dois mil metros de extensão, foram construídas no séc. XII e são a referência para entender o núcleo urbano e histórico da cidade. Um passeio pelo perímetro do conjunto muralhado levá-lo-á a visitar as suas nove portas, assim como outras, mais secretas. Os muros das muralhas foram sendo ao longo dos tempos adaptados ao terreno onde foram construídos. As suas torres elevam-se, por exemplo, em zonas mais planas, tornando-se mais baixas quando o solo é acidentado. Na construção das muralhas intervieram ao longo dos tempos arquitectos mudéjares e mouros. É a partir da Casa de las Carniceiras, da Porta del Alcázar ou do Arco del Carmen que se poderão obter as melhores vistas da zona envolvente, nomeadamente da paisagem urbana, composta por torres e campanários, e da natural, oferecida pela serra de Ávila e vale Amblés.
Catedral-fortaleza
A catedral-fortaleza da cidade é um dos melhores exemplares da alma medieval de Ávila. A sua construção iniciou-se entre 1160 e 1180 sobre um antigo templo românico. A catedral é simultaneamente o primeiro exemplar do estilo gótico na região espanhola de Castela. Uma vez no seu interior repare bem na capela maior, onde é possível ver as primeiras abóboras divididas em seis partes, no sepulcro de Alonso de Madrigal, situado na nave que rodeia a abside (obra de destaque no Renascimento espanhol), e no museu, que conserva a custódia de prata, feita por Juan de Arfe em 1571. Esta última ainda percorre hoje em dia as ruas da cidade no dia do Corpus Christi. Se tiver tempo, percorra também todas as restantes naves do interior da catedral, bem como as capelas laterais, o claustro, o Altar de los Reyes e o coro.
Plaza del Mercado Chico, Ayuntamiento e Iglesia de San Juan
A Plaza del Mercado Chico é o coração pulsante do centro histórico da cidade. A sua construção iniciou-se nos finais do séc. XVIII tendo ficado concluída um século mais tarde. É nesta praça que se encontra o bonito edifício do Ayuntamiento de Ávila, um projecto do arquitecto Ildefonso Vázquez de Zuñiga em 1865. O granito da fachada sobressai do conjunto impressionante. Aproveite para provar também um típico doce da cidade, feito à base de gemas de ovos e de açúcar: as Yemas de Ávila. No lado oposto ao do Ayuntamiento, destaque ainda para a bonita arcada que delimita bem o perímetro da praça e para a Iglesia de San Juan, mais uma de origem românica, onde no passado se reunia o Concelho da cidade.
Torreón de los Guzmanes e Convento de Santa Teresa
O monumental Torreón de los Guzmanes é mais um dos edifícios militares emblemáticos da cidade. Actualmente sede do Governo Provincial de Ávila, a visita ao torreão vale a pena nem que seja para visitar o seu pátio interior com pórtico, formado por pequenos arcos ornamentados. Ali perto, está situado o Convento e Igreja de Santa Teresa, erguidos sobre um antigo solar. Além da fachada barroca do edifício, vale a pena espreitar o museu Teresiano, assim como a cripta do templo, um espaço de grande interesse arquitectónico.
Mansión/Palácio de Polentinos (Museu do Corpo de Intendência)
Sede do Arquivo Militar do Exército, a mansão/palácio de Polentinos é hoje um dos exemplares máximos da arte da cidade de Ávila. A sua fachada e pátio com ornamentação espanhola típica do século XVI representam o modelo mais original da arquitectura que caracterizou a cidade. No interior, está igualmente instalado o museu do Corpo de Intendência. Sem grandes atractivos na minha opinião.
Cuatro Postes
O sítio de Cuatro Postes fica já tão fora do centro histórico de Ávila que é daqui que se poderão obter vistas excelentes sobre a cidade e sobre a extensão do seu conjunto muralhado. No local, também conhecido por Humilladero, quatro colunas dóricas escoltam uma cruz. Há um mini-autocarro que faz o trajecto entre o centro histórico e o local.
Monastério de la Encarnación
O Mosteiro da Encarnação ocupa desde 1510 o local de um antigo cemitério judeu e é hoje em dia um dos locais teresianos mais visitados em toda a cidade. Santa Maria de Teresa viveu inclusive aqui durante mais de trinta anos. No interior, existe um museu dedicado à sua figura e obra, de onde sobressai um desenho feito por Juan de la Cruz, que representa Cristo na Cruz. O interior da igreja do mosteiro, de estética barroca, também merece uma visita. Uma vez lá dentro, não deixe de reparar nos altares e retábulos de estilo barroco.
Informações úteis:
- Como chegar:
Da estação de Chamartín, em Madrid, basta apanhar o comboio MD e em quase 1h3o sairá na cidade de Ávila. O bilhete de ida e volta ronda os 10 euros. Mais informações aqui.
- Horários e dias de funcionamento:
- Basílica de San Vicente – época de Verão (Abril a Outubro) das 10h às 18:30, preço 2,30€;
- Muralhas de Ávila – Verão (Julho e Agosto) das 10h às 21h, preço 5€;
- Catedral-fortaleza e museu – das 10h às 20h, preço 5€;
- Iglesia de San Juan – Sem informações;
- Torréon de los Guzmanes – das 10h às 14h e das 17h às 20h, entrada gratuita;
- Convento de Santa Teresa – Verão (Abril a Outubro) das 10h às 14h e das 16h às 19h;
- Palácio de Polentinos – das 10h às 15h e das 16.30 às 19h, entrada gratuita;
- Monastério de la Encarnación – das 09:30 às 13:30 e das 16h às 19h, preço 2€.
NOTA: A foto que consta no cabeçalho deste blogue não é minha e como tal os direitos são reservados.
A cidade alta de Cuenca
Situada quase no centro da Península Ibérica, Cuenca destaca-se pela excepcional fusão do seu espaço arquitectónico com a natureza que a envolve. Na verdade, a cidade de Cuenca encontra-se dividida em duas: a cidade baixa, de cariz mais moderno e sem muitos atractivos na minha opinião, e a cidade alta, de aspecto puramente medieval. É ali que o aglomerado urbano original de Cuenca brota do topo de um imenso desfiladeiro esculpido ao longo dos tempos pela ação dos rios Huécar e Júcar, revelando paisagens exuberantes e únicas. Esta harmonia perfeita valeu a Cuenca a declaração de cidade Património Mundial da Humanidade pela Unesco em Dezembro de 1996. É por isto que a viagem de ida e de volta desde Madrid, só possível em comboio de alta velocidade, vai valer e muito a pena. Se ainda não está convencido, veja bem as explicações e imagens de perder o fôlego que se seguem.
Plaza Mayor e Ayuntamiento
A Plaza Mayor fica bem no centro da cidade alta e é um bom ponto de partida para explorar a zona medieval de Cuenca. A praça está rodeada pela Catedral, pela Câmara Municipal (o Ayuntamiento) e pelo Convento de las Petras. Antes de observar o edifício da autarquia, repare bem nas cores coloridas das fachadas das casas dispostas ao redor da plaza, assim como nos múltiplos varandins em madeira de cariz medieval puro. O edifício actual do Ayuntamento destaca-se assim do conjunto restante não só devido à sua fachada barroca, projectada em 1733 e construída anos mais tarde, mas também por estar assente em três altos arcos, uma solução que permite hoje em dia ligar a baixa e a alta Cuenca, viabilizando a circulação viária e pedonal entre ambas. Num dos restaurantes ali existentes poderá ainda provar uma das iguarias da cidade, as chuletillas de cordero a la brasa.
Catedral (Tesouro Catedralício, Palácio Episcopal e Museu Diocesano)
A catedral foi o primeiro edifício a ser construído após a conquista da cidade, no lugar onde antigamente estava uma alcáçova muçulmana, em finais do século XII. O edifício tem traços românicos e góticos reflectindo bem as tendências da época em que foi edificado. A planta da igreja obedece ao desenho de uma cruz latina, com três naves e uma série de capelas, todas elas construídas séculos mais tarde. De entre elas destacam-se a dos Apóstolos, Espírito Santo e Cavaleiros. Passe também no Tesouro Catedralício, de pequenas dimensões se comparado a outros, mas repleto de obras importantes, designadamente de Martín Gomez el Viejo, Pedro de Mena, entre outros. Num edifício anexo ao da catedral, ergue-se o Palácio Episcopal, cuja construção se iniciou no século XIII, prolongando-se pelos seguintes. Sobre a porta da fachada é possível ver o escudo do bispo que patrocinou a sua construção, Flores Osório. Se tiver tempo, passe ainda pelo Museu Diocesano. Situado no nº 3 da calle Obispo Valero, o museu tem obras religiosas de todo o tipo, desde pinturas várias a retábulos. É ali que se poderá ver a imagem de San Julián, patrono da cidade.
Casas Colgadas (Museu Espanhol de Arte Abstracta)
As Casas Colgadas são os edifícios mais emblemáticos e conhecidos de Cuenca. A sua notoriedade deve-se essencialmente a dois factores: o primeiro deriva da sua própria construção, bem em cima de um precipício gigantesco. Ali, as vistas sobre o rio Huécar são excepcionais. Para se ter uma percepção, os varandins medievais em madeira das Casas Colgadas estão literalmente suspensos no ar, a largas dezenas de metros de altura do rio que corre bem lá em baixo. Já o segundo factor deriva do facto de ser ali que está sedeado o Museu Espanhol de Arte Abstracta, onde se encontram obras dos mais representativos artistas espanhóis do movimento: Tapiès, Rueda, Torner, entre outros. Ainda se desconhece, passados tantos anos, se as Casas Colgadas são de origem medieval ou muçulmana. A visita é obrigatória.
Ponte e Convento de San Pablo (Espaço Torner)
A ponte de San Pablo, construída em ferro e madeira, liga o desfiladeiro onde estão as Casas Colgadas e toda a restante cidade alta de Cuenca a um outro, onde é possível ver o mais importante convento da cidade. Actualmente, o convento de San Pablo funciona como Parador Nacional de Turismo. A igreja localizada no seu interior é de estilo gótico, embora, mais uma vez, haja resquícios de Barroco e, até mesmo, de Rococó. É neste espaço que estão actualmente expostas as obras de diferentes épocas do escultor e pintor Gustavo Torner.
Passeio pela Senda del Hocino de Federico Muelas
A visita a Cuenca não ficaria completa se não aproveitasse as rotas turísticas que foram sendo criadas em torno do desfiladeiro onde se ergue a cidade alta. Uma das mais populares, pela natureza que a cerca, é a que parte da ponte de San Pablo e o deixa no bairro do Castelo, no topo da cidade alta. Caminhe devagarinho, pare quantas vezes quiser e fotografe sem se preocupar demasiado com as horas. De uma ponta à outra do passeio pela Senda del Hocino de Federico Muelas, assim é o nome da rota, estima-se que sejam necessários pelo menos 50 minutos. Depois de recuperar o fôlego, perca-se de novo no aglomerado urbano medieval. Veja as muralhas que ainda subsistem do antigo castelo, atravesse o arco del Bezudo e pare no Convento de las Carmelitas Descalzas. Se ainda aguentar mais, tire um tempo e visite a Fundación António Pérez, localizada no seu interior. Aqui poderá ver muitas obras coleccionadas pelo editor e artista ao longo de vários anos, desde pinturas, esculturas, livros, entre outros.
Igreja de San Pedro
A seguir à Catedral, a igreja de San Pedro é a mais importante de Cuenca. Construída sobre os restos de uma antiga mesquita, a igreja destaca-se pela originalidade da sua planta octogonal. A actual igreja é do século XVIII e está aberta a visitas turísticas.
Bajada a las Angustias
O nome só por si já é sugestivo. Partindo da Igreja de San Pedro, siga as indicações da Ronda del Júcar e desça às Angústias. Não consegui compreender bem ainda de onde provém o nome, mas posso adiantar que a descida vale e bem a pena. Não me senti nada angustiado, nem mesmo tendo de encarar os degraus íngremes da subida até à plaza de San Nicolás. Nas Angústias é possível contemplar em quase toda a sua plenitude o rio Júcar, as praias artificiais da outra margem, o conjunto montanhoso local e a totalidade do desfiladeiro onde a cidade se ergue. Se tiver tempo, veja o Convento de Franciscanos Descalzos (fechado durante a minha visita à cidade) e a Ermida da Virgen de las Angustias.
Casa Zavala (Fundación Antonio Saura)
Localizada na antiga Casa Zavala, em plena plaza de San Nicolás, a Fundación Antonio Saura difunde actualmente obras do artista aragonês falecido em 1998. No total, são mais de 500 metros quadrados de exposição distribuídos ao longo de várias salas, onde se podem apreciar obras como ‘Moi’, ‘La Muerte y Nada’, ‘Autos de Fé’, entre outras. Escrituras, arquivos documentais e fotografias tiradas pelo artista complementam a visita. Saindo da antiga casa Zavala, aprecie ainda a igreja de San Nicolás, situada na praça com o mesmo nome.
Torre de Mangana
Além das Casas Colgadas, também a Torre de Mangana é outro dos edifícios emblemáticos de Cuenca. A subida à torre, que está localizada numa praça com o seu nome, é imprescindível para ver na quase plenitude a cidade baixa e toda a sua modernidade. A torre é um edifício do século XVI, restaurado na sua plenitude no século passado. Na praça de Mangana é possível ainda admirar o ‘Monumento à Constituição’, criado pelo artista Gustavo Torner.
Informações úteis:
- Como ir: Da estação de Puerta de Atocha, em Madrid, basta apanhar o comboio de alta velocidade (AVE) e sair na estação de Cuenca Fernando Zobel. A viagem feita em alta velocidade dura quase uma hora e o preço de ida e de volta são cerca de 30 euros. Chegado a Cuenca, há um mini-autocarro que o transporta até ao topo da cidade alta.
- Horários e dias de funcionamento:
- Ayuntamiento: mais informações aqui;
- Catedral de Cuenca: sobre horários e preços de entrada, ver mais informações aqui;
- Casas Colgadas (Museu Espanhol de Arte Abstracta): informações aqui;
- Convento de San Pablo (Parador Turístico): site oficial aqui;
- Iglesia de San Pedro: para consultar horários, aqui;
- Fundación Antonio Saura: para mais informações, ver site oficial aqui.