Egito: Dia 5 – Uma cidade verdadeiramente “cairótica” (Midan Tahrir & Gezira)
A imensidão do Cairo tinha-me impressionado desde o primeiro momento. E foi por esse motivo que insisti imenso na subida à Torre do Cairo, na ilha de Gezira, em pleno coração da capital egípcia. Só podia fazê-lo no dia que teria mais livre na minha viagem ao país. Afinal, de onde poderia ter uma visão aérea da cidade, ainda por cima a 360º?
A decisão foi rumar então desde o bairro Cóptico até essa zona da cidade, o que à partida seria rápido. No mapa, aliás, o trajecto parece ser rápido. Mas o nosso motorista privado, o Maher, avisou-nos logo que iríamos ter uma experiência única para a vida. E assim foi: às 16 horas da tarde, o inferno esperava-nos em quatro rodas. Congestionamentos brutais em todas as ruas que eu via, carros velhos a apitarem desenfreadamente e a poluírem o ar como eu jamais sonhei ser possível… Um caos harmonioso que acaba por caracterizar esta cidade como nenhuma outra. Quatro carros a tentarem passar numa faixa de rodagem? É possível. Oito pessoas num carro com capacidade para cinco? Isso é comum. Quatro “gato-pingados” em cima de uma lembreta? É do que para lá mais há.
Mas, enfim. Apesar da dificuldade de deslocação, lá conseguimos chegar rapidamente à ilha de Gezira, em pleno coração pulsante cairota. E rumámos logo para as filas intermináveis da Torre do Cairo, depois de termos comprado os bilhetes. A subida ao topo, que se eleva a 185 metros de altura, é feita por um elevadorzinho, onde estão instalados guias locais que devem repetir o mesmo milhentas vezes ao dia.
A metade sul da ilha de Gezira, que significa ilha em árabe, é completamente plana e isso justificou a construção neste local da torre do Cairo. A torre foi erguida em 1950 e apresenta a forma de um tubo gradeado que se abre ligeiramente no topo, supostamente imitando uma flor de lótus. Do cimo é possível ver o extremo leste da cidade onde os edifícios cinzentos se erguem contra a encosta dos montes Muqattam. Para oeste, as pirâmides e o inicio do deserto assinalam o limite visível a olho nú. Coincidentemente, subimos naquela que supostamente é a melhor altura para ver a cidade, no pôr-do-sol, porque as luzes da cidade se vão acendendo com a chamada para a oração… Mas a intensa poluição atmosférica não deu tréguas e estragou um pouco o efeito que esperávamos ver.
Do cimo da torre e olhando directamente para baixo, vê-se o complexo da ópera do Cairo, uma oferta nipónica ao país em 1988 e de onde se destaca no centro a nova ópera do Cairo e o Museu de Arte Moderna do Egito, que não vimos. Destaca-se também o passeio da marginal, junto ao Nilo, que começa na ponte Qasr el-Nil, desenhada pelos arquitectos britânicos responsáveis pela ópera de Sydney. O passeio foi criado no final da década de 90.
Depois de passarmos de carro por essa ponte, rumámos à praça Midan Tahrir. O motorista e as pessoas que me acompanhavam nem saíram do carro. Como era sexta-feira, havia manifestações nesta praça agora conhecida em todo o mundo dada a queda de Mubarak. As fotos que tenho também não ficaram grande coisa. Era muita animação e “perigo” ao mesmo tempo.
Daquilo que me pude aperceber, a praça tem muito trânsito e pouca ou nenhuma beleza. Todas as ruas da cidade vão ali desembocar e em poucos dias a maioria dos visitantes familiariza-se com os seus marcos brutalistas, como o Nile Hotel, o Arab League Building ou o Mogamma. Os locais mais conhecidos nas redondezas incluem o Museu Egípcio, que iria visitar dois dias depois, e a elegante curva de fachadas entre Sharia Qasr el-Nil e Sharia Tallat Harb, onde se encontram múltiplas lojas de souvernirs.
Eram já cinco e meia da tarde e a noite tinha caído. Rumámos ao hotel pela corniche el-Nil, uma das vias mais movimentadas da cidade, mas também aprazíveis. É aquilo que se pode assemelhar mais a um parque numa cidade com falta de espaços verdes. Para percorrer o destino entre o centro da cidade e a zona de Gizé, onde o meu hotel estava situado, demorámos quase três horas, presos em engarrafamentos brutais. Não dá para explicar o quão complicado é o trânsito daquela cidade, onde ninguém respeita ninguém e onde não há sinalização luminosa. É uma experiência para a vida: para o melhor, mas também para o pior.
Destino do dia seguinte: pirâmides de Gizé. Até lá.
Informações úteis:
- A melhor forma de conhecer o centro do Cairo é a pé, caso tenha disponibilidade. O táxi é outra opção, bem como o Metro, com as estações Sadat (para sair em Midan Tahrir) e Opera (para sair em Gezira e ver a ilha, o complexo da ópera e a torre do Cairo).
- É totalmente desaconselhável andar a pé e sozinho pela praça Tahrir porque há constantes manifestações no local. A situação actual está longe de estar apaziguada.
- A Torre do Cairo está aberta das 08 às 24 horas. Tem restaurante e situa-se em Sharia Hadayek el Zuhreya. A entrada é paga e custa 70 LE (Novembro de 2012) ou 7,95€.